Os estudos confirmam o que há muito já desconfiávamos: “Os brasileiros preferem guardar dinheiro para viajar a investir para se aposentar. É o que diz uma pesquisa da seguradora HSBC feita em diversos países e que investiga como as pessoas planejam suas aposentadorias”.
Gilberto Poso, superintendente de gestão de patrimônio do HSBC, chama atenção para algo esquecido quando se é jovem: os gastos com saúde. Segundo ele, “os brasileiros sabem que vão ter gastos cada vez maiores com saúde, mas não estão se protegendo”.
A pesquisa também informa que os brasileiros acreditam que seu período de aposentadoria será de 23 anos, mas poupam para somente 12 deles, ou seja, nos outros 11 anos, não sabem como irão se sustentar.
Outra pesquisa, a da Serasa Experian realizada com 2.002 pessoas em 142 cidades, aponta que 69% dos brasileiros não poupam.
Segundo o levantamento, 35% sentem mais prazer em gastar imediatamente do que em juntar dinheiro e 30% confessam comprar por impulso.
Alguns fatores que contribuem para afastar o consumidor dos investimentos é a falta de conhecimento sobre as vantagens financeiras gerada pela ausência da disseminação da educação financeira no País. “A sociedade está preocupada com o consumo imediato, com a TV de última geração ou o celular que nem sabe usar direito. As pessoas não se preparam para cuidar da aposentadoria, deixando para pensar no futuro depois”, diz a especialista em seguro de vida e previdência privada Maísa Serra, da corretora Vida Livre Seguros.
Aposentadoria: justo descanso ou miséria a vista?
Para quem acha que aposentadoria equivale a imagem de sombra e água fresca, atenção: a frase do momento é “juntar dinheiro e complementar a aposentadoria paga pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)”.
Mas será que nunca teremos descanso? Sinto dizer que não.
Segundo Maísa, para manter o padrão de vida ao ‘pendurar as chuteiras’, é preciso assegurar renda equivalente a pelo menos 70% do salário que recebe na ativa. Por exemplo, quem ganha R$ 5.000 por mês tem que garantir renda de pelo menos R$ 3.500.
“Apesar dos gastos maiores com medicamentos e plano de saúde, o aposentado desembolsa menos com roupas e alimentação fora de casa, não tem despesas com deslocamento para o trabalho, já quitou seus patrimônios, como imóvel e veículo, e já criou seus filhos, ou seja, não tem mais gastos com Educação”, justifica. “Se não conseguir garantir pelo menos 70%, o idoso não consegue viver com dignidade e passa a depender da ajuda de parentes.”
A necessidade de reforçar o benefício do INSS se dá por conta do valor máximo pago pela Previdência Social, hoje de R$ 4.159. Quem ganha R$ 4.000 ou R$ 40 mil, portanto, contribui com a mesma quantia mensal, de R$ 457, e consegue receber até o teto.
“Hoje é comum viver até os 95 anos, embora a expectativa de vida esteja em 73 anos. Nos anos 1950, porém, as pessoas viviam até os 50 anos. Como o tempo sem trabalhar aumentou muito é preciso juntar mais dinheiro”, diz Maísa.
Quanto poupar?
Segundo a especialista, a ideia é que quem tem até 30 anos separe ao menos 5% do salário líquido (descontando INSS e Imposto de Renda). De 30 a 40 anos, 7%. De 40 a 45 anos, 10% e, acima de 45 anos, 15%. No caso de uma pessoa que tem entre 30 e 40 anos e que tenha salário líquido de R$ 4.000, são necessários R$ 280 por mês. É preciso, no entanto, fazer contas junto à instituição financeira que fará o investimento para simular quanto é preciso guardar.
Para o professor da escola de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas) Samy Dana, o ideal é que sejam investidos 30% do salário. “Tudo depende do padrão de vida que se quer ter. Porém, nem sempre essa quantidade é possível, depende se a pessoa já tem filhos, se está pagando a faculdade ou a prestação da casa. O mínimo recomendado é 10% do rendimento”.
O planejador financeiro e professor de macroeconomia da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Silvio Paixão alerta que não adianta, com 59 anos, resolver complementar a aposentadoria que será obtida aos 60 anos. É preciso mais tempo para juntar dinheiro. “Acredito que todos deveriam ter suas reservas desde o nascimento, porém, quase nunca é assim. Acho que o período limite para começar a poupar é até dez anos antes da data em que o trabalhador pretende se aposentar”.
Poupança 30% maior
Matéria do Jornal “Estadão” anuncia: “Mudança de regra para aposentadoria exige poupança até 30%”. Na prática, o que isto quer dizer?
É “fácil”: “poupar para a aposentadoria vai exigir um esforço financeiro maior a partir deste ano. A redução gradual da meta atuarial dos fundos de pensão – ou seja, a previsão de rentabilidade dos planos fechados de aposentadoria – de 6% para 4,5%, fará com que o investidor tenha de reservar uma quantia mensal maior para ter o mesmo valor acumulado. Para se ter uma ideia do impacto, para quem começar a poupar agora por um período de 30 anos, o valor mensal deve ser elevado em pouco mais de 30%”.
Cálculos de Silvio Paixão mostram que, “com uma previsão de rentabilidade de 6%, um investidor que poupasse R$ 1 mil por mês, chegaria ao final de 30 anos com R$ 974.513,07 – sem considerar os efeitos da inflação. Já com uma meta atuarial de 4,5%, esse valor a ser economizado mensalmente sobe para R$ 1.304,46 – uma alta de 30,4%”.
“Quanto maior o prazo, maior a perda e, portanto, maior deve ser o esforço da contribuição nos prazos mais longos para acumular o mesmo valor no período”, diz Paixão. Ele comenta que no cálculo não foram considerados os efeitos da inflação. O efeito dos impostos também não foi levado em consideração, pois dependem do perfil tributário de cada pessoa.
O Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), órgão ligado ao Ministério da Previdência Social, aprovou então a redução gradual da meta atuarial dos fundos de pensão de 6% para 4,5% ao ano até 2018.
A medida vale a partir de 2013. A cada ano, a meta terá um corte de 0,25 ponto porcentual. A meta atuarial consiste no rendimento real (descontada a inflação medida pelo IPCA), necessário para que o fundo consiga pagar seus beneficiários ao longo do tempo.
“A decisão reflete o cenário atual de juros mais baixos da economia brasileira”, informou o ministério, em comunicado.
Exemplo “raro” de poupador
Marcos Chiarelli Filho, 31 anos, é um dos exemplos de pessoas que dedica parte de sua rotina diária pensando em como investir para ter estabilidade financeira na velhice.
O analista financeiro, que mora com os pais apesar de já possuir uma casa – que prefere manter alugada-, pretende se mudar apenas no ano que vem, quando planeja comprar um apartamento.
“Em 2009, fui desligado da empresa em que trabalhava e usei a indenização para dar entrada na casa. Com o aluguel, pago o financiamento. Assim, não comprometo meu salário, que poupo para a compra do apartamento”.
Para o educador financeiro Mauro Calil, da Academia do Dinheiro, é esse tipo de bem – imóveis colocados para alugar são considerados patrimônio “ativo” – que dá lucro, é gerador de renda, e claro, deve ser foco de investimento ao longo da vida. O patrimônio “passivo”, como carros, que dão despesa, deve ser visto com cautela.
O consultor também afirma que o tempo é o maior aliado de quem pretende ter tranquilidade nas finanças: “Quanto mais tempo houver para poupar, maior será a facilidade em formar patrimônio”.
Portanto, só nos resta ter juízo e pensar no amanhã. Se queremos viver cada vez mais, o negócio da hora é poupar e poupar.
Referências
ESTADAO (2013). Mudança de regra para aposentadoria exige poupança até 30% maior. Disponível Aqui. Acesso em 01/07/2013.
FIGO, A. (2013). Poupe e se planeje para ter estabilidade financeira na velhice. Disponível Aqui. Acesso em 01/07/2013.
G1.GLOBO (2013). Brasileiros não guardam para aposentadoria, diz pesquisa. Disponível Aqui. Acesso em 01/07/2013.
PEDROZO, S.A. (2013). Com 70% da renda atual dá para manter padrão de vida na velhice. Disponível Aqui. Acesso em 01/07/2013.