O filme “A Forma da Água”, para alguns um conto de fadas, é na realidade um retrato da misteriosa fragilidade dos laços humanos e dos amores líquidos.
O diretor Guillermo del Toro é especialista na arte de fazer um cinema calcado em mitos, lendas, folclores e histórias resgatadas da oralidade conseguindo assim ligar os acontecimentos contemporâneos aos arquétipos contidos nessas narrativas.
Numa busca rápida na internet, a sinopse (também rápida) do filme.
“Elisa é uma zeladora muda que trabalha em um laboratório onde um homem anfíbio está sendo mantido em cativeiro. Quando Elisa se apaixona com a criatura, ela elabora um plano para ajudá-lo a escapar com a ajuda de seu vizinho”.
Sim, esse é um bom resumo dos 123 minutos que assistimos.
Porém, o mais interessante é o que mobilizou cada um daqueles e daquelas que estavam no Espaço Itaú de Cinema.
O casal assíduo dos debates, concordou que o filme escancarava o que, na opinião deles, o ser humano tem de pior, o desprezo pelo que é diferente. Para eles, o cenário da Guerra Fria (1962) vivido pelos americanos em nada mudou: continuamos insensíveis, mesquinhos e hipócritas.
A senhora que sempre nos diz que adora nossas conversas pós filme, até concordou mas garantiu que o que vimos fora uma belíssima história de amor.
E essa foi a deixa para outras mulheres dizerem do tipo de amor que perceberam estar em jogo nesse roteiro.
O amor da jovem faxineira muda pelo vizinho gay, solitário como ela e ávido por encontrar eco para seu discurso de excluído do mercado de trabalho por ser velho, excluído do “mercado dos afetos” por ser homossexual, e também excluído de certos padrões de beleza por ser careca.
E o maior e mais surpreendente amor: o dessa jovem faxineira muda e sonhadora pelo ser que veio das águas (aliás, de algum de nossos rios amazônicos).
E esse amor não tinha forma: tinha mistério, surpresas, impossibilidades, medo e descobertas.
Por ele Elisa se arriscou. Com ele construiu uma linguagem transbordante de afeto e cumplicidade.
Com ele transou debaixo da água e encarou tudo que até então a oprimia: a hierarquia militarizada do laboratório, o preconceito em relação a sua mudez, as privações e um destino marcado pela diferença.
E nós que acabamos sendo um pouco críticos de cinema, acertamos: o filme levou 4 estatuetas no Oscar.
Preparem-se! Toda última terça-feira de cada mês, 14 horas, tem filme para podermos refletir sobre a potência que cada fase da vida nos reserva.
Quem tem 55+ a entrada é gratuita, com animados debates, nos espaços culturais de cinema Itaú em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Brasília e Porto Alegre.
Fotos da galeria: Rodrigo Gueiros