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A magia do bambuzal

No fluxo dos dias, me alimento da vontade de muito em breve retornar ao bambuzal, um refúgio de paz e ternura, no meu cantinho de luz, no relicário do meu coração.

Sempre Viva (*)


Como gosto deste lugar!  Para mim, o bambuzal é o mais bonito e encantador de todo o parque. Revela-se grandioso, pequeno e misterioso na mesma medida e ótica dependendo do que se busca num determinado momento. Nos permite transmutar com rapidez inesperada já que tem material suficiente para potencializar sensações múltiplas no estatismo que se encontra. Nele, me diverti com meus netos ainda pequenos, tentando adivinhar quem eram os habitantes dali. Para minha neta, as fadas eram visíveis, suas roupas, lindas e brilhantes, varinha nas mãos a atender os pedidos infantis. Para os meninos, os gigantes dormiam todas as noites no meio dos bambus e o barulho do vento nas suas folhas era criação desses homens grandiosos.

Não sentíamos o passar das horas, já que a nossa imaginação cuidava do tempo, movida pela curiosidade alada a nos conduzir por voos singulares. Com todos, caçamos formigas munidos de paciência oriental, uma pinça e a fiel caixinha de fósforos vazia, à espera das nossas presas ágeis e espertas.

Hoje, com todos crescidos, costumo dizer-lhes que o bambuzal é um presépio, um palco, um refúgio e um templo que a natureza nos presenteou. Particularmente, me identifico com todos esses substantivos dada a variedade de cenários que os bambus nos oferecem. Assistir as aulas das modalidades orientais, constitui-se num espetáculo harmonioso e delicado, afinado com o que a sua filosofia preconiza. Aos domingos, caminhar na feira orgânica e comprar dos produtores diretamente é um privilégio. Apreciar as peças artesanais confeccionadas pelos artistas expositores aos domingos é espetacular e, vê-los protegidos do sol embaixo do bambuzal, nos incita a um agradecimento à mãe natureza. Essa feira, surge como um espaço democrático oportunizando a todos a prática da solidariedade e da partilha.

Ali, me comovo ao ver a roda de pessoas de todas as idades e gêneros, sentadas à sombra das velhas árvores, muito próximas do bambuzal, tricotando formas geométricas coloridas, para, depois, serem costuradas e, ao formar uma grande colcha, é encaminhada aos necessitados de calor humano e proteção saudável. O ponto máximo desse espaço é atingido no momento em que o show semanal se inicia, a nos comtemplar com música e sons advindos de artistas desconhecidos e consagrados num ecletismo infinito. Nesse congraçamento, nossos diálogos internos variam de acordo com o que nos toca e afeta.

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Com portões fechados, justificados pelo Covid 19, divago sobre o paradeiro daquela senhora franzina e elegante que, ao ouvir as músicas, sob olhar atento e amoroso do seu marido, rodopiava e bailava suave e alegremente, a inebriar-se com lembranças que o Alzheimer permitia. Sinalizo que, participar desse acontecimento singelo e melancólico, nos coloca frente a frente com nossas limitações e a fragilidade da existência humana. Outras duas senhorinhas que se destacam na hora do show: aquela que, com seu chapeuzinho de palha, adornado com flores naturais, baila livre e descontraidamente e a professora aposentada, que, desenvolta, baila graciosa e, animada, a estimular que todos a imitem. Em dias de sol, podemos afirmar que nada falta para coroar esse acontecimento magistral!

Assim sendo, no fluxo dos dias, me alimento da vontade de muito em breve, retornar a esse lugar que, para mim, consiste num refúgio de paz e ternura, no meu cantinho de luz, no relicário do meu coração. Amém, paz e bem!

São José dos Campos, 17 de abril de 2020.

(*) Sempre Viva é uma flor que dura mais de 50 anos, possui um aspecto delicado, mas é muito resistente. Tem este nome porque são capazes de manter as cores e o aspecto vivo mesmo depois de secas e sobrevivem em qualquer clima. Este texto, assinado por Sempre Viva, é de autoria de Vera Helena Zaitune – Graduada em História, Mestre em Educação. E-mail: vhzaitune@gmail.com.


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