A diversidade que faz diferença nos cursos de cuidadores do OLHE

O Portal do Envelhecimento esteve presente em uma das aulas realizadas na CIP – Congregação Israelita Paulista conversando com os alunos e professores sobre a importância de se abordar temas tão diversos e como o curso sobre formação de cuidadores de idosos está sendo recebido por esses alunos.

Alessandra Anselmi  Texto e Fotos

 

Os assuntos contemplados são relacionados aos conteúdos trabalhados em sala de aula, procurando proporcionar ao aluno, um maior contato com a realidade que irão encontrar na prática diária durante o exercício da profissão, levando essa metodologia diferenciada à construção de seu conhecimento.

Para a Assistente Social e Coordenadora de Projetos da Terceira Idade da CIP, Débora Sór (na direita da foto), que apresentou a aula de cultura judaica: a ideia de ter uma aula que falasse sobre a cultura e religião judaica surgiu durante a formulação da parceria da CIP com o OLHE – Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento. A CIP é uma referência no encaminhamento do acompanhante para serviços nas residências, mas nunca deu um curso para essas pessoas e o OLHE tem o know-how da execução e desenvolvimento dos cursos mas não tem o encaminhamento, foi assim que decidimos unir os saberes e experiências e, a parceria então deu super certo.

Recebemos aqui na CIP de 5 a 8 vagas de cuidadores por dia, por isso este curso foi uma necessidade de renovar esse cadastro uma vez que nem sempre encaminhamos os acompanhantes para os lares, justamente por eles não estarem preparados devidamente.

A partir dessa parceria estabelecida, incluímos a aula sobre cultura judaica, pois se esses cuidadores serão inseridos nas famílias da comunidade judaica, é interessante que eles conheçam certos rituais e símbolos, até mesmo por uma questão cultural, saber o que é um Shabbat, a importância das festas judaicas e o que elas representam, como por exemplo o Purim – considerado o carnaval judaico onde se comemora a vitória do povo judeu sobre os povos inimigos; o Pessach – páscoa judaica; o Rosh Hashaná – ano novo judaico e Yom Kipur – o dia do perdão, certamente as duas principais festas do judaísmo.

Débora Sór assinalou ainda que Conhecer os símbolos e seus significados como o Menorah – candelabro de sete braços, o Mezuzá – estojo de pergaminhos que contém os mandamentos da Torá, afixado nas portas dos aposentos, os rituais de falecimento, enfim, tudo isso é importante para o cuidador porque quando entramos na casa de alguém, temos que ter respeito pelas pessoas que lá vivem, pela cultura delas, independente da religião.

Para ela, Respeitar e saber conviver com essa diversidade, com as diferentes religiões é uma grande qualidade, inclusive profissional hoje em dia. E estes profissionais que estão fazendo o curso, que vão receber um certificado, eles vão ter um diferencial, porque quando falamos para as famílias que estamos fazendo o curso de cuidadores e como a CIP é referência na comunidade no encaminhamento, para elas tem mais uma segurança que estamos mandando uma pessoa com credibilidade, que tem as técnicas do cuidado, que a qualquer momento a família pode nos ligar, buscar o apoio, que existem duas entidades por trás dessa formação: CIP e OLHE. Então, tudo isso deixa a família muito mais tranquila porque sabe que esse cuidador está preparado e, para o acompanhante também é muito bom porque é um mercado promissor, é um mercado de futuro, e fazer o curso proporciona a ele esse diferencial.

Para Marília Berzins (na esquerda da foto, tendo ao meio Flávia Pacheco – coordenadora do Programa Cuidar é Viver), coordenadora do curso e professora: O curso de formação de cuidadores de idosos do OLHE tem se apresentado para responder uma importante necessidade no mercado que oferece serviços de cuidados. Procuramos formar profissionais com habilidade e competência para atender as necessidades das pessoas idosas com dependências. Além destes valores, defendemos a autonomia das pessoas idosas e, sobretudo, ensinamos aos cuidadores a respeitar a cultura, valores, etnia, religião e todas as demais particularidades. A inclusão do tema “cultura judaica” no currículo da turma que estamos desenvolvendo na Congregação Israelita Paulista vai de encontro a este propósito. Este é o nosso diferencial.

Os alunos

Salete Cavalheiro, 60 anos – Eu estava procurando emprego e aqui na CIP como eles costumam encaminhar as pessoas, então vim para cá com esse intuito. Chegando aqui, fui informada de que haveria o curso de cuidador de idosos e me propuseram a fazê-lo para ser posteriormente encaminhada para o trabalho com mais conhecimento e segurança. E foi assim que aconteceu. Hoje eu estou aqui aprendendo coisas que vou levar para a vida toda, não só para o trabalho do cuidador, para coisas para o meu próprio bem estar e qualidade de vida, para mim qualidade de vida era uma coisa, e eu aprendi no curso que o conceito de qualidade de vida é algo bem maior que eu imaginava, é uma consequência da postura que temos diante da vida, de nós mesmos, enfim, tenho aprendido sobre ética, saber que cada família que entramos para trabalhar é diferente e você tem que saber lidar com essas diferenças, e o curso favorece isso. Para mim está sendo ótimo, tanto que estou abrindo mão de um monte de coisas por causa do curso como por exemplo, ganhei uma viagem de presente que só poderia ser usada agora e eu querendo tanto viajar, porque como não estou trabalhando algum tempo, eu não tenho condições financeiras para viajar, mas recusei simplesmente porque não posso perder duas semanas de aula. Eu perderia muita informação importante, então abri mão da viagem. Pretendo depois do curso, continuar na área e agora sei que vou fazer com mais técnica, com mais segurança. Acho que tinha que haver mais cursos como esse para as pessoas terem mais campo de trabalho e para quem já trabalha poder se informar mais se preparar mais.”

Para as irmãs, Yvone Amarante , 53 anos e Ilma Juventino, 56 anos, o curso tem várias qualidades como por exemplo, as especialidades dadas em aulas separadas, onde cada professor pode se aprofundar mais, uma que elas destacam foi a aula sobre Alzheimer, tema cada vez mais atual e necessário. São quatro horas bem aproveitadas, com apresentação e discussão de filmes, elaboração de trabalhos, provas. As irmãs também dizem que dos cursos que viram no mercado sobre cuidador de idosos, não tem nenhum como este dado pelo OLHE na CIP. “Cheguei a ver um curso de cuidador de uma semana, você acha? Não dá para aprender tanta coisa em tão pouco tempo”, afirma Yvone Amarante.

Fernando Antonio Gomes, 59 anos – Vi pela UNIBES (União Brasileira Israelita) que haveria este curso e eu me interessei por me especializar mais. Já tenho experiência no cuidado ao idoso quando eu era cabeleireiro e tinha um salão, eu dava banho, penteava o cabelo, fazia a barba. Mas só foi agora que surgiu essa oportunidade de fazer curso e estou achando muito bom. É tanta coisa que se aprende aqui, não imaginava que um curso como esse iria ter tanto conteúdo. Não classificaria apenas uma aula preferida, gosto de todas. Pretendo arrumar um emprego, quem sabe agora com este curso não fica mais fácil.

Josefa Maria de Lima Gois, 49 anos – Estou muito feliz pela oportunidade de fazer este curso e ao final dele espero além de melhorar como pessoa e profissional, espero estar realizada. Adoro todas as aulas do curso, a de hoje por exemplo, cultura judaica, eu que já trabalhei em uma residência judia, sempre respeitei a religião e por isso aprendi rápido muita coisa na prática, convivendo com eles, mas depois dessa aula de hoje, eu estaria muito mais preparada para entender os significados dos rituais, das festas… tudo tão bonito! E esse curso que vem me mostrando coisas assim e hoje tenho certeza que vou cuidar melhor do idoso porque tenho mais conhecimento.

A CIP – Congregação Israelita Paulista

A Congregação Israelita Paulista (www.cip.org.br) tem como missão introduzir conteúdo judaico no cotidiano, incentivando a perpetuação das tradições e, ao mesmo tempo, mantendo-se atual e aberta ao que acontece ao seu redor. Fundada por imigrantes judeus alemães em outubro de 1936, a CIP teve papel de muita importância ao acolher e oferecer aos refugiados da II Guerra Mundial que chegavam ao Brasil, por vezes desacreditados da religião e de si próprios, um vínculo forte e consistente com sua espiritualidade e com suas raízes judaicas, funcionando ainda como facilitadora e motivadora na integração à nova pátria. A Congregação promove diversas atividades como grupos de estudos judaicos, escola judaica, coral, atividades para a terceira idade, campo de estudos entre outros, sendo assim, uma referência na comunidade judaica paulista.

O OLHE – Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento

A ONG foi criada em 2006 por um grupo multidisciplinar de profissionais, buscando ser uma referência de vanguarda como agente de transformação que estimule e sustente um envelhecer com futuro. O OLHE (www.olhe.org.br), que já recebeu alguns prêmios por sua atuação, atua por meio de quatro áreas: informação (Portal do Envelhecimento), intervenção, pesquisa e formação.

Em 2011, o OLHE, em parceria com a empresa Support/Danone, por meio do programa Cuidar é Viver, deu início ao seu curso de formação de cuidadores de idosos. Até agora, o OLHE aprimorou no total, a formação de 240 acompanhantes de idosos em 2011 e formou 156 cuidadores em 2012. Atualmente, há três turmas em andamento. Para este ano de 2013, a meta do OLHE é formar mais 24 turmas.