Tempos atrás, vinte anos aproximadamente, “encontrei” com um dos maiores escritores que conheço: o brasileiro Affonso Romano de Sant’Anna. Na época, descrevia de forma Affonsiana, o “dilema” de quatro pessoas que fariam 30 anos. “O limiar de uma coisa grave”, relatava-se em certo momento. Completar três décadas seria a saída de um estado agudo de prazer, felicidade, controle e, sobretudo, “poder.” Fazer trinta anos é resgatar o tempo perdido ou usá-lo, com muita cautela, o pouco que ainda “resta” para fazer ou mudar umas tantas importantes coisas que, por falta de tempo, ou esbanjamento dele, não fizemos. Bom mesmo é esquecer o que virou só passado, por falta de grandes marcas.
Alcides Freire Melo *
Com emprego, dinheiro no bolso e a “irresponsabilidade” dos vinte e poucos anos que agora nos guia e rege, passamos a “comprar”, idealizar, fazer balanço dos sonhos, criar outros e parar aos trinta. Depois disso, pagar as contas que começam a chegar, algumas irresponsavelmente criadas, outras nem tanto. É hora de comportar-se como adulto de verdade e precocemente, aos trinta anos… Casar. Muitas vezes, uma ação tangida pela insensibilidade ou descuido de uns poucos novos e inábeis neurônios que teimam em reger o universo dos trinta anos. O ideal? Bom mesmo seria aos 40 anos, acho eu. Mas esta é outra história.
Amanhã acordaremos com os aguardados 60 anos. Assim, a vontade e o apetite sexual começarão a diminuir um pouco. Hora de provocar outros prazeres ao corpo. O erotismo, por exemplo, que independe deste apetite. Com ele vamos gostando ainda mais das músicas de amor do Chico Buarque, de motores V8, viajar por toda a Europa em carro alugado ou pilotar uma moto Ténéré pela famosa Highway 1, na Califórnia. Fazer 60 anos não é como morder uma pimenta malagueta. Fazer 60 e poder brindar com uma Dom Périgon, ou um Château-Figeac e seguir por outras estradas, trilhas, autobahn ou rout por dez décadas para poder reinventar os 70.